Cartas do Sol a uma Primavera ausente


"Sabes, Primavera...

Eu não queria fazer-te mal. Acredita que não. Via-te tão cheia de vida, mas tão frágil, tão desprotegida, curiosa e inocente, que quis afastar todo o frio e sombras de ti.

É... confesso, fui eu... Desculpa.

Fui eu quem trouxe o Verão... fui eu quem via todos os dias, teus rebentos crescer, florir, ganhar cor e peso... fui eu quem te mantive sempre quente e perto da minha vista. Estiveste sempre exposta a mim.
Mas tal como qualquer soberano, fui imprudente, verdadeira criança mimada que não larga o brinquedo enquanto não o destruir.

Deixei que o meu calor lentamente secasse a seiva de tuas folhas. Drenei toda a água em ti e no que te rodeava. Bronzeei-te tanto, que até caíste com o peso do maduro castanho.
Levei-te a inocência, colhi teus frutos, tirei-te a juventude... vi-te cair desamparada no chão... Linda!

Já te disse que és bela? É essa a tua natureza... ser bela. Mesmo morta.

Sabes, toda a vida em volta começou a esconder-se de mim, a procurar abrigos ou refugiar-se bem dentro da casca, onde meus raios não conseguissem chegar. Compreendo-os. Mesmo sabendo que sou a razão da sua existência, também sei que serei o seu fim. Mas tu, Primavera... és diferente. Não deveria ser assim, eu não tinha esse direito.

Olha, vou ausentar-me.
Prometo aparecer de quando em vez... talvez num daqueles dias onde o meu choro não caia do céu... virei espreitar onde caíste pela última vez.

Pedir desculpa não te trará de volta. Vou fazer o meu longo e sombrio luto... prometo voltar depois da longa noite, no mesmo dia em que as Trevas começam a perder para a Luz...

Prometo ressuscitar-te, Primavera! Uma e outra vez...

Até que o Inverno vingue-se em mim."


- Belíssimo video. Para ver. -




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