A In-culturação da ingratidão

Estava eu a ler o jornal que o Senhorio aqui deixou no sábado, quando num cantinho reparo nisto:
-"19.01.2013 - Elis Regina deixou-nos faz hoje 31 anos". E de repente leio nas vossas faces: "Elis quem?!". Pois... 3 conclusões se podem tirar da vossa ignorância. Epa, ignorantes, sim! Quem não sabe, ignora, certo?! Vá, não se chateiem, não era para ofender. Bolas, andam todos logo de dedo no gatilho, prontos a disparar por tudo e por nada! Bem, retomando... Onde é que eu ia... Ah! Conclusões. Obrigado! Vocês são uns queridos quando querem.

A primeira conclusão é que já tou velho como o caraças ehehe.

A segunda, já vocês desconfiam... são uns incultos :) Ou surdos, ou pior ainda, estiveram os ultimos 30 anos a olhar para o belo umbigo que têm e nem se aperceberam da pele em volta, do mundo que vos rodeia! Sapinhos no fundo do poço, é o que vocês são!
Então, nunca escutaram isto?!



Ah pois é, já se lembram! Não estavam a ver quem era, eu sei... Ok, estão desculpados. O que nos leva para a terceira conclusão...

São uns ingratos. E esta é valida para todos, mesmo aqueles que sabiam quem era a Elis dos chocolates Regina. Eu incluido.

Porque? Epa, tem que existir uma razão para tudo?! Ok, ok... Acalmem-se que eu explico. Ainda se enervam e deitam fogo ao Sótão e depois o Senhorio fode-me o juizo. E com razão, o que é pior. Vossas Excelências sendes uns ingratos do tamanho da Divida Soberana porque pura e simplesmente dão as coisas como adquiridas e eternas. Não fazem o minimo esforço para perceberem o quanto alguém deu de sua vida para termos o nivel de conforto e qualidade de vida que temos hoje. E já nem falo do plano sentimental... isso seria uma conversa longa, mas tão longa que não sei se o Sótão ainda estaria de pé quando terminasse. Fiquemos pelo material, é mais palpável e menos controverso.

E agora perguntam vocês: -"mas que raio tem Elis Regina a ver com  a minha pseudo-ingratidão?"

Ora ai está uma boa pergunta! Estão a ficar activos e atentos, muito bem! Elementar, meus caros Watsons! Primeiro, porque sou eu o Inquilino do Sótão, e até ordem em contrário do Senhorio, sou eu quem manda nisto. Arrogante, eu sei. Não gostam, não entrem. Mas como vocês são uns lindinhos, eu faço a ponte entre os meus argumentos: Elis Regina-Ditadura-Resistência.

Ora bem, comecemos então pela Elis e este tema Romaria. Solidão, infortúnio, e sonhos desfeitos, é o que a senhora fala. De tantas tentavivas falhadas (próprias e herdadas, sem esperança nas suas capacidades, entregando as sortes à Fé, mas nunca deixando de seguir em frente. O andar a cavalo, o trem(que raio de neologismo para comboio!)no túnel, são tudo metáforas para seguir em frente, continuar. Em suma, piloto-automático, mas prefiro chamar-lhe Modo Zombie. Anda-se por cá, mas não se está cá. Caminha-se.

No entanto, e enquadrando no tempo e no espaço a Elizita, vivia-se em plena ditadura no Brasil. Elis poderia aproveitar o conforto de ser uma estrela do povo e usufruir das boas graças do Poder. Mas não, Elis não se conformava, Elis não se calava e denunciava os abusos da ditadura militar. Só a sua enorme popularidade a livrou da prisão. A mesma popularidade que a levaria aos excessos.

E depois de tanta poeira levantada, o comboio da sua vida entrou nos trilhos do álcool e da cocaína. Quis o destino, aquele mesmo que escolheu, que regressasse ao pó, ironicamente.

Recordar Elis Regina apenas pela música e pelos seus excessos, não só é injusto, mas também ingrato. Escolher um caminho e segui-lo, por mais errado que pareça a opiniões externas ao próprio, é a mais pura das liberdades. Elis escolheu seu caminho,mal ou bem, foi o seu caminho, a sua vida. Mas mais que isso, Elis fez parte daquelas pessoas que lutou para que outras pudessem escolher livremente seus destinos. Erradamente ou não, mas em plena escolha. E isso é muito mais importante que toda uma carreira discográfica ou uma overdose fatal.

Uma coisa que faz muita impressão e incómodo a este ser à beira-piano plantado, é ver a ingratidão e insensibilidade crescentes nas pessoas com que me cruzo. Até parece que ninguém lutou, ninguém morreu, ninguém deixou o conforto de seus lares, para que tivessemos todos uma vida melhor. Apesar de anónimos, o seu sofrimento foi real. Hoje em dia todos falam em direitos adquiridos... adquiridos?! Herdados!

E o pior, é que nesta ânsia do imediato, do facilitismo, do mercantilismo vigente em que tudo é negocio, não se criam raízes, não se luta por ideiais, mas apenas e só por momentos, por números. Uma sociedade que apenas olha para os números e deixa de sonhar, de imaginar o que o esforço de hoje pode deixar para os de amanhã, não merece ter futuro. E nem presente. Porque não honra a memória dos que os antecederam.

Ah, esperem! Só mais um bocadinho... Obrigado. Elis tinha uma frase que eu gosto particularmente, e se não sabem o que significa, só me dão razão mais uma vez. Olhem, googlem! Outra aberracao ortográfica, googlem... Enfim... A frase? Já vai! Apressados!

"Sempre vou viver como Kamikase. É isso que me faz ficar de pé"






Comentários

  1. Vocês são terriveis ehehe. O Inquilino não pode ter uma gralhazita sequer, uma distração no teclado que vocês caiem logo em cima! Ok, ok... Corrigido e revisto! mas obrigado pelas chamadas de atenção! Só não lhe peçam para escrever segundo o novo acordo ortográfico! Ele prefere (e muito bem) dar erros em Português, que escrever perfeitamente numa lingua hibrida qualquer. Sempre a considerar!

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