25 de Abril e outros alheamentos
Dizem-te que é preciso nunca esquecer. Concordo.
Mas já não o teremos feito?
Já não estaremos confortavelmente sentados, acariciando o umbigo, acumulando coisas que não precisamos, chateando o vizinho de baixo apenas porque… podemos?
Pior…
Não estaremos nós… calados perante injustiças alheias, só porque não nos toca, não é nada connosco, não é a minha luta?
Será que a a força das leis desculpabiliza o contorno dos valores éticos e pior, regulamenta imoralidades?
Mas não era isso que o Estado Novo também fazia? A força da Lei?
Sim, já vejo a tua expressão escandalizada… os presos políticos, a guerra colonial, o atraso civilizacional, a fome…
Mas… e a tua capacidade de indignação? Como está? Achas que é igual?
Consegues passar da indignação e do bradar aos sete ventos nas redes sociais? Será que tens a coragem de contestar o teu governo, o teu partido, o teu clube, o teu amigo… quando sentes que não é correcto o seu comportamento?
Ou simplesmente, fazes como o fulano que está a escrever isto… e vais para a net clamar por justiça, ética, valores sociais e igualdade para todos?
Serão as redes sociais uma poderosa ferramenta amplificadora?
Certamente.
Mas não basta. Por mais que enchas o mural de frases feitas, por mais músicas de intervenção que partilhes, se não modificares a tua atitude no lado de cá do teclado, não passarás de um mediático indignado... cobarde e egoísta.
Não vivi o tempo suficiente para sentir os efeitos da ditadura. Mas sei que foi preciso muita coragem para a afrontar. Concorde-se ou não, aquela gente colocou a própria vida em risco para que outros pudessem crescer em liberdade, para que pudéssemos escolher livremente quem nos representa. Assim como os castigar pelo voto.
25 de Abril trouxe Direitos… mas temos o DEVER de preservar os seus ideais. Resistir às injustiças não é uma opção, é um legado.
Ou então…
Nunca cumpriremos Abril.
25 de Abril todos os dias.
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