Olhares vazios e outros (des)equilibrios



Qual será o ponto de equilíbrio?

Aquela linha, aquele marco, aquela dose, que depois de ultrapassada, nunca mais terás porto de abrigo... e andarás à deriva, tomando e afogando âncoras que te fixem momentaneamente a lugar nenhum. Apenas porque te disseram que iria fazer-te bem... que te sentirias melhor... que passaria. 

 

Não, não passa.

Apenas entras em modo zombie, interruptor desligado, vida suspensa.
Chama-lhe álcool, cocaína, heroína ou outra substância psicotrópica qualquer, receitada ou suicidada. Dizem-te que é um desequilibro químico algures no teu cérebro... ou que estás a precisar de animar... ou esquecer.

Intoxicas-te pela tua própria mão ou por cumplicidade médica.
Existirá diferença? Existirá MESMO assim TÃO grande desigualdade entre as drogas de livre acesso (legais ou sociais) e as que alguém te diz que vai fazer-te sentir bem, mas tens que as tomar diariamente?

Qual a diferença? Será que carregar um prato da balança irá fazer desaparecer o peso do outro? Ou apenas... equilibrar por acréscimo? Será isto um tratamento?

Ou simplesmente... camuflagem?

Tenho visto demasiada gente desfazer-se por dentro. Em álcool, drogas sociais... mas também em sedativos e ansiolíticos. Gente que olha para ti com o olhar vazio, que repete lugares comuns e transfere tiques nervosos. Gente que te diz que se não fosse os medicamentos, não estaria aqui, de pé, viva...

Mas porra, que vida é essa?!
Que sociedade é esta que produz zombies para depois os alimentar sugando-lhe os recursos e energia? Será isto o progresso? Estaremos mesmo com melhor qualidade de vida?

Sim, há casos e casos... mas caramba! Será que todos já se esqueceram o que era viver 30 anos atrás? Seriamos assim tão doentes que não conseguíamos ter noção disso? Quantos miúdos nos nossos tempos de escola tinham hiperactividade? Quantos? Ou casos de depressão extrema?
Muito poucos.

A triste verdade é que estamos a criar gerações fracas, que quebram ao primeiro embate com a realidade. O pior, o pior é que a família, a sociedade, já não consegue dar o suporte necessário para a auto-regeneração.
Torna-se mais fácil, mais rápido, aliviar sintomas e desprezar as causas, ignorando processos e tempos. Já ninguém suporta um raspanete, um conselho, um... NÃO.

Pior que isso, desprezamos o poder curativo do toque, do abraço, do libertar das tensões em colo alheio. Porque ninguém "está para isso", ninguém quer envolver ou comprometer com o próximo sem que receba algo em troca.

Poder-me-ao dizer que nunca existiram tantos apoios, tantas instituições sociais, tantos... subsídios.

Pois... Negoceia-se tudo.

Até o abraço.


 

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