As Longas Noites do Amanhã - O Telefonema
"Fátima estava desesperada.
Não o conseguia encontrar em lado algum. Nem sequer atendia ao seu chamamento. Aquele mesmo que tinha sempre resultado, que era mágico, que o fazia aparecer...
Por onde andaria?
Que estaria a fazer neste momento? Estaria doente? Teria morrido? Cruz! Credo! Morrido não!
Outro colo talvez...
Tentou afastar essa possibilidade, era doloroso aceitar que poderia ser bem o caso.
Mas Fátima nada tinha feito para que ele se afastasse. Bem pelo contrário... tinha cedido a todas as suas vontades. Algumas até contrafeita... mas quando se ama... há sempre cedências, há sempre um aceitar cúmplice do lado lunar do outro. Há quem chame a isso amor, outros submissão. Ou dependência.
Fátima não tinha bem a certeza se o amava.
Apenas sentia a falta.
A falta daquela segurança que emanava do seu abraço, do calor do seu peito, do jeito fácil com que ele lhe conquistava o riso e o juízo.
Pensando bem, talvez o amasse.
Ou talvez apenas sentisse a ausência daquela personalidade forte que lhe afastava a insegurança, que a fazia sentir mulher como nunca fora capaz, nem imaginara ser possível até!
"Bolas! Arrisco eu o meu casamento para isto! Para nada!"
Ali ficou, perdida em pensamentos enquanto percorria automaticamente os canais da tv. Mas não conseguia..
Sentiu-se condenada. Na alma e no corpo.
Amaldiçoou o dia em que cruzou com aquele olhar. Jurou que nunca mais abriria espaço para alguém a dominar tão completamente.
"Nunca mais!"
Saltou quando o telemóvel começou a tocar aquela música. "É ele!". Voou até à mesa, sentindo o coração na garganta.
Parou.
Estava perante uma escolha." - in As Longas Noites do Amanhã.
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