Mais uma vez...
Mais uma vez as tvs, rádios e mesas de café, vão dissecar tudo o que aconteceu, causas e consequências, apontar culpados exteriores (sim, a inércia também é negligente), linhas de apoio e solidariedade surgirão... e ficará tudo na mesma.
Mas ficará mesmo?
Para mim e para todos os que não viveram a tragédia na pele, depois de passado o choque, regressaremos a nossas casas, nos nossos carros que estacionaremos à sombra das nossas árvores ou na garagem da moradia. Abriremos a porta e lá estarão todos os entes queridos que deixámos quando saímos pela última vez. Como sempre tem acontecido.
Nunca valorizamos o quão frágil é a vida até a perdermos. Não a nossa... já não fará diferença... mas a daqueles que não veremos mais, as saudades do que nunca viveremos juntos... o vazio.
Poderia ter sido diferente?
DEVERIA ter sido diferente.
Somos todos culpados nos pequenos nadas, faíscas invisíveis que somadas, alimentam a a fogueira. O nosso silêncio e, mais que falta de exigência, a responsabilização perante os decisores, perante o vizinho que não limpa o seu terreno, ou o familiar que teima em viver sozinho, isolado rodeado de árvores, já de si em débil condição física e péssimos acessos... ou simplesmente, por ignorarmos os avisos de alerta e não precavermos o perigo que corremos, numa cegueira conscientemente egoísta que, para além de nos por em perigo, colocará inocentes que arriscarão sua vida para nos socorrer.
São os pequenos nadas que agora... nada importam para quem perdeu tudo... para quem morreu. Assim como esta chuva que cai agora. Para estes... vem tarde, demasiadamente tarde. Não há chuva que apague uma lágrima, e muito menos uma vida. Tudo o que possamos dizer agora, pouco aliviará quem está em perda. Além das nossas demonstrações de afecto e pesar, precisam urgentemente de APOIO material! Esta é agora a única chuva que os poderá ajudar.
Cai esperança do céu para quem vê as chamas aproximar, quem as luta carregado de roupa pesada, quando podia estar no fresco de suas casas, São estes heróis anónimos que estão no calor, a lutar pelo que não é deles, enquanto cobardemente, eu e tu estamos confortavelmente a olhar para o monitor, no fresco do ar condicionado, lamentando o sofrimento alheio.
-"Mas que posso eu fazer?!"
Olha em volta. Vê onde está o quartel de bombeiros mais próximo e ajuda com mantimentos básicos. Questiona o teu presidente de junta porque aquele matagal (que até pode ser um baldio comum) não foi limpo. Porque é que ainda se lançam foguetes com temperaturas a rondar os 40º!!! Ou os acessos a pessoas isoladas, qual o plano de emergência. Este é o momento para pressionarmos os políticos, as instituições que dão apoio aos idosos isolados, os vizinhos mais negligentes... e sobretudo, de rever os nossos comportamentos.
Ou então deixar tudo na mesma.
Até ser tarde demais.
Uma e outra vez...
O meu ENORME RESPEITO E AGRADECIMENTO a todos bombeiros, forças de segurança e pessoal das equipas de emergência médica.
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