Kulhesovisando
Lev Kuleshov foi um cineasta russo, que nos anos 20, realizou uma série de experiências com o objectivo de potencializar as emoções dos espectadores. Recordo que por esta altura o cinema era mudo, pelo que a expressão corporal, a criteriosa escolha de planos e imagens, fazia toda a diferença.
Ora, então em que constava a dita?
- Montou um pequeno filme, onde apresentava o rosto sem expressão de um homem, alternando com imagens de um prato de sopa, o corpo de uma menina no caixão, e uma mulher semi-nua deitada num sofá.
O filme foi exibido e curiosamente, o público acreditava que a expressão no rosto do homem era diferente cada vez que ele aparecia, dependendo se ele estava vendo o prato de sopa, a criança morta, ou a mulher no sofá, mostrando respectivamente uma expressão de fome, tristeza ou desejo. Contudo, a expressão do homem era SEMPRE A MESMA.
Acontecimentos recentes fazem-me pensar que andamos todos a viver uma espécie de Efeito Kuleshov invertido. Provavelmente terá um nome próprio que os senhores da Psicologia e Sociologia saberão, mas sinceramente, mais que um nome, preocupa-me o efeito.
Vivemos tempos onde um Nobelizado recusa ir receber o prémio, e não contente, falta a uma audiência com talvez o melhor e mais democrata Presidente que os EUA tiveram; ditadores e guerrilheiros assassinos serem homenageados e elevados à escala de... exemplo?!
Oi?! Como?!
Desculpem... dar cor a uma foto não modifica a pessoa retratada. Um mal-educado é um mal-educado, e um ditador NUNCA deveria ser beatificado e lavado das mortes que carrega. Por melhor que fossem as suas intenções. Ou então algo vai muito mal na nossa definição de democracia e... humanismo.
Ah... só mais isto...
Gosto muito desta edição video para um tema do Cohen. Cenas de um filme de culto, cores quentes, sensualidade envolvente... Curiosamente, não é essa a origem da música... "apenas mudou-se" o que queremos ver, que não é necessariamente o que realmente É. Mais que um problema de filtros, uma opção consciente, uma espécie de cegueira voluntária.
Foi a MORTE nos campos de concentração, quem inspirou o mudo e impávido Cohen. Traduzam vocês e escolham a imagem que preferirem. Mas permitam que vos diga... Por mais cor que adicionem, a realidade não se altera.
Apenas foram... "Kuleshovisados".
"'Dance Me to the End Of Love' ... it's curious how songs begin because the origin of the song, every song, has a kind of grain or seed that somebody hands you or the world hands you and that's why the process is so mysterious about writing a song. But that came from just hearing or reading or knowing that in the death camps, beside the crematoria, in certain of the death camps, a string quartet was pressed into performance while this horror was going on, those were the people whose fate was this horror also. And they would be playing classical music while their fellow prisoners were being killed and burnt. So, that music, "Dance me to your beauty with a burning violin," meaning the beauty there of being the consummation of life, the end of this existence and of the passionate element in that consummation. But, it is the same language that we use for surrender to the beloved, so that the song — it's not important that anybody knows the genesis of it, because if the language comes from that passionate resource, it will be able to embrace all passionate activity." - Leonard Cohen.
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