Vazios e outros copos cheios de Nada


Pessoalmente não acredito verdadeiramente em espaços vazios.

Acho até que é apenas uma mera incapacidade nossa, uma incompetência sensorial, uma cegueira consciente, uma espécie de matéria negra que desconfiamos que esteja lá, mas como não a compreendemos, torna-se mais fácil negar a sua existência. Teorema resolvido, ponto final na questão, siga!

Mas não é tão simples assim...
Estar VAZIO é estar CHEIO de... NADA.

Se reconhecemos algo, se lhe atribuimos um nome... é porque existe. E se existe, existe! O simples facto de estar fora da nossa pele e do alcance dos nossos receptores, não pode, não deve ser sinónimo de uma inexistência formal. Apenas não sabemos.

Costumamos associar a ausência ao vazio.
Parece-me bem. Se reconhecemos a falta, é porque tem corpo dentro das nossas posses, dos nossos afectos, das nossas relações sociais. Sentimos a sua falta... ou o seu contrário.

No final de contas, sempre sentimos algo.

Chame-se dialética dos opostos que se complementam e fazem o todo, yn/yang, entropia/sintropia ou simplesmente a velha Lei de Lavoisier, vai dar tudo no mesmo:
- Somos um produto em constante mutação - não necessariamente evolução, porque isso implicaria um patamar qualitativo superior (o que nem sempre acontece) -, inacabado e eternamente imperfeito.

Existimos, é um facto.

Mas de que somos feitos? Qual a nossa energia, qual a avaliação que fazemos do que somos agora, qual a nossa... essência?

É interessante o que tais momentos de pausa, de vazio consciente e procurado, consegue fazer-nos re-flectir na matéria que nos compõe e, essencialmente, como lidamos com toda essa diversidade de "naturezas" inatas e adquiridas.

Estuda-se as diferentes equações do sistema, o seu produto e a variável final. Se a tua folha estiver demasiado limpa, vazia... é porque tens uma vida cheia e plena de nadas tão grandes que não deixam espaço nem tempo para prazeres tão simples como afiar um lápis novo. Mas para que precisas tu de um lápis quando preferes uma folha perfeitamente limpa? Desculpa, mas esse branco todo... cheira a luto prematuro. Desististe de ti, não rabiscas nada, ninguém cruzará com tuas linhas nem fará parte das tuas contas. Apenas existes.

Eis o que somos...

Um mero produto ao qual nem conseguimos atribuir uma certeza matemática, um valor final. Porque somos dependentes das variáveis com as quais cruzaremos ao longo da equação. Apenas podemos olhar para a folha rabiscada, uns erros aqui, uns rabiscos acolá, algumas borratadas... e aprender com anteriores equações semelhantes, como nos comportamos, reagimos, sobrevivemos... resolvemos.

Essa é a nossa essência, aquilo que define não tanto a qualidade do teu papel ou o rabiscar do teu lápis, mas sim como tu és perante o que cruza contigo...

Copo meio cheio ou meio vazio talvez...

Prefiro dizer... sempre cheio.



Se ainda estás por aqui a ler isto, é porque fazes parte daquele vazio que me rodeia. Distante no contacto, mas suficientemente perto para te dares ao luxo de gastar uns minutos para tentar ler em mim aquilo que te toca. Agrade-te ou não. Até podes sorrir, abanar a cabeça e dizer um impropério qualquer na segurança da distância. Ficarás no confortável silêncio ou talvez até comentes... Talvez nem te darás ao trabalho de ler, quanto mais tentar perceber, comentar ou contestar o que escrevo.

Isso não me é indiferente.
Mesmo o vazio em que a maioria dos meus desvarios possa cair, diz-me muito sobre os que me rodeiam. Faz parte do processo, do eterno e cíclico fluxo energético, em que a única constante é a mudança.

O vazio faz-me transbordar e borrar a folha.
Orgulhosamente.

Obrigado.
Por nada.

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