A Montanha

Olhas em volta...
O que te rodeia, o que está por trás de ti... o que é suposto tu seres. Tudo o que fez com que chegasses até aqui, até agora.

Foi tanto.
Mas tanto, que na imensidão da montanha, torna-se difícil definir qual o cume mais alto. Apenas sabes e reconheces cada precipício, cada pântano, cada desfiladeiro que ultrapassaste. E foram muitos.

Ultrapassaste... puro engano!
Apenas conquistaste o direito a subir mais um pouco... a carregar mais pedras na tua mochila. Porque a montanha... essa está lá, ali... bem em frente a teus olhos, imponente e a desafiar-te. Não passas de apenas mais um que deixará as cinzas na sua encosta, Poucos se lembrarão de ti... e muito menos a montanha. Porque tu, meu caro... és insignificante. Por mais que penses o contrário, por mais picos que atinjas, nunca passarás de um reles grão de areia empurrado pelas sortes do vento.


Talvez seja tempo de assentar no sopé... erguer muros e abrigos... contemplar tudo aquilo que conseguiste.
Com um bocadito de sorte, alguém em volta que te alimente o ego e embebede na ilusão do sucesso e dos afectos. Genuínos ou mera sobrevivência. Porque a montanha não perdoa. Nem esquece. Pagarás com a eterna memória dos que deixaste para trás por cada metro que ousares conquistar na subida.

E isso pesa... pesa muito.
Pesa tanto que as usaste como fundações para o abrigo confortável e simples do deixar passar dos dias.

Aqui és o centro, primus inter pares, um alfa de qualquer coisa que não sabes lá muito bem definir. Ou sequer se é mesmo assim. Não importa, aqui no abrigo tu és grande.

Mas a montanha... A montanha é maior que tu.

E isso... isso incomoda-te.

E inquieta.

 

( belíssima edição para um emotivo e talentoso Elijah Bossenbroek. Para ver, ouvir e sentir )


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