Tempo de esquecer e outras mentira


É, dizem que o tempo tudo faz esquecer, o tempo cura...



Pessoalmente acho que o tempo nos engana... empurra-nos... faz-nos colidir com os momentos do amanhã... faz-nos seguir em frente.
Ao seguirmos em frente, os novos presente, os agora de hoje, encurtam nosso campo de visão, deixas de poder olhar para os lados, para a periferia, para trás. E quando perdes a visão periférica, aquela onde tu vislumbras o passar do tempo, perdes o elo com o que viste ontem.
Tal como a avestruz, o simples facto de não vermos, não significa necessáriamente que não exista.

Sim, felizes os ignorantes...

Caminhas em frente... nem olhas para trás, sabes que tuas pegadas desapareceram, que não sobrará prova de tua passagem... e dizes a ti mesmo que o tempo apagou-te o caminho.

Mesmo que não saibas como aqui chegaste... mesmo que tivesses vindo a boleia num colo alheio e novo... e que implores ao vento que te sopra contra o rosto para levar-te as memórias... Triste ilusão! O vento, esse parceiro do tempo, apenas depositará pó e terra no que deixaste para trás. Podes até deixar de ver, ou esperar que o tempo corra para longe... mais o tempo é uma medida infinita....redonda... e ciclica. Mais tarde ou mais cedo, tu vais pisar o teu passado... quando menos esperares, tropeçarás nele.

E aí, caro amigo... darás conta do engodo. O tempo deixou-te correr em circulo. Algures dentro de ti, lá no fundo, naquele bau que julgaste e juraste nunca mais abrir, residem as tuas memórias. Fazem parte de ti. E de ti não consegues fugir.

Conheces aquela expressão "estar mesmo em frente dos olhos e não ver?" Sim?! Esse é o segredo... não enterrar nada. Até porque corres o risco que crie raizes.

Por isso, meu caro... ou te aceitas, e poes teu passado na mala de viagem, bem perto do olhar, mas tão perto que de tão banal, já nem ligas... ou vais andar sempre a tropeçar e a cair em ti. Dolorosamente em ti.

Porque este é o tempo de esqueceres de esquecer. E um dia, um dia poderás mesmo dizer que o tempo cura. Sim... se tiveste a coragem de olhar para o que carregas... para o fardo que sem dares conta, deixará de te pesar. E esqueces...

Mas esqueces tanto... que até te esqueces de ti. Outra vez. E sorris!

Se tiveres tempo.

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