As Longas Noites do Amanhã



"...
Ela veio caminhando, naquele passo lento... seguro... predador.

Sentiu o seu olhar penetrante primeiro no rosto.

Quase que podia apostar que ela dissecava a surpresa que ele certamente revelava na face. Sentiu-se medido, pesado e avaliado nas suas capacidades.

Despido.


Até à alma.

Era uma grande mulher! Não tinha os traços delicados, não seria modelo... não, de todo! Mas tinha aquela sensualidade forte que só um carácter vincado consegue transbordar. Aquela mulher não se deixaria levar se não o desejasse também.

Recostou-se instintivamente no cadeirão da esplanada, numa tentativa de retirada para um abrigo qualquer, onde se sentisse mais... confortável.
Mas não era o seu espaço. Estava exposto e inseguro.

Pela primeira vez na sua vida, sentiu-se intimidado por uma mulher.

Respirou fundo, sorveu mais um gole de café, enquanto ela sentava e cruzava provocatóriamente as longas pernas, bem ao nível dos seu olhar... sem uma única palavra. "Vamos a isto!" - gritou mentalmente para si. -

-"Jorge. Sou o Jorge que lhe telefonou". Estendeu-lhe a mão... que ficou perdida no ar. E no silêncio. Apenas o fumo os mediava.

E aquele olhar... aqueles olhos! Jorge sabia agora que arriscava-se a ser ultrapassado pelos acontecimentos.

Talvez não tivesse sido assim tão boa ideia..." - in As Longas Noites do Amanhã

 

 
 
 

 

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