Borrifadelazinhas


Pronto, tinha que ser...


Voltou aquela chuvinha chata, que faz-me recordar aquelas pessoas que falam a chorar, sempre a lamuriarem-se, numa ladainha pegada... Mete-me uma impressão danada falar com alguém assim! 


Nem desembucham, nem me desamparam o Sótão!

Aquilo é um programa mental, de peninha, de pequenez, sempre à espera que tenham pena delas, que lhes dêem alguma coisinha... Tal e qual como o triste vicio que o tuga tem em acabar as palavras em inho ou inha...
É o coitadinho, a esmolinha, a penhinha, o amorzinho, o beijinho, dinheirinho, a casinha... É mas é uma merdinha, é o que é!
Como esta chuvinha tolinha...


Bolas, apetece-me ouvir isto, antes que endoideça e fique... Tolinho!


Uma coisa que gosto de fazer é conduzir à chuva. C-H-U-V-A! Daquela que mal abres uma nesga, teu carro parece a Arca de Noé em pleno dilúvio. Maluquinho, não é?  

 
Como eu estava a dizer, conduzir no meio da tempestade é o chamado equilibro perfeito para mim. Claro que tem que ser sozinho... não vá o Inquilinozinho acordar, minha mão ganhar vida própria e começar a viajar na pernoca da pendura... e num instante o dilúvio acontece entre a manete das mudanças e o puxador da porta! É que tempestades estimulam-me... Sim, já sabem disso, desculpem, foi um pormenorzinho ehehe.
Não, tem que ser mesmo eu, o rodinhas e a borrasca.

A verdadeira ménage-à-trois!

Quanto mais me embrenho na ventania, quanto mais penetro na muralha de água, mais meus pêlos se eriçam, mais meu sangue ferve, mais meus pensamentos desaparecem... Epa, não dá para explicar, apenas que sinto a tempestade em mim mas simultaneamente uma calma na alma, um vazio na mente, que só em muitas raríssimas ocasiões tenho a sorte de desfrutar.


Doidinho.
Ou tolinho, tontinho eheheh. Não percebem a razão do riso, pois não? ehehe Não faz mal, estou a rir de mim e para mim. Foi um lapsozinho de malvadez


E no entanto, espreito lá para fora, e nada!

Apenas a merdinhaaaa dumas gotinhaaaas de chuvinhaaaa pequenininhaaaaa a bater nesta janelinhaaaa do Sótão! Estavam à espera que dissesse sótãozinho, era, não era?!


Nope!
O Sótão é grande! É do tamanho das coisas que eu quiser trazer cá para dentro... Vocês nem sonham o que aqui cabe... O Senhorio de vez em quando obriga-me a fazer uma selecção, que isto não é um museu, que não é sitio para guardar fantasmas, blablabla...coisas de gajo racional. Mas aquilo é da boca para fora, eu sei!


Como?!


Deixei-os ficar à chuva?

Esta chuvinha molha-tolinhos?! Cambada de queixinhas! Deviam era viver no tempo do Noé para ver o que era chuva...


Vá, vão para dentro, não se molhem... Por mim prefiro encará-la de frente e no rosto.


Mas tem que ser chuva.


Não sou planta de estufa para ser borrifado.
 

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