All of this and Nothing



Narizito era forte.

No carácter e na teimosia! Porque de aparência, o vento ria-se na sua face quando fazia ondular o cabelo e teimava em apagar-lhe o cigarrito companheiro.
 

É… Narizito era uma meia leca toda empinada, no alto das suas botas e jeans apertados. Nada na sua figura de meia gente revelava a força interior que faiscava do seu olhar 33… o mesmo olhar que libertava entre o cabelo, sobrolho franzido, rosto inclinado... naquela pausa silenciosa que dizia tudo… Tinhas exactamente 3 segundos para te explicares melhor ou fazer meia volta antes que Narizito libertasse o mau feitio. Esse mesmo, aquele que só pessoas com bom coração conseguem ter. Acho até que era um género de um equilibro qualquer, tipo tudo e nada ao mesmo tempo, na mesma pessoa. 
Uma espécie de karma.

Não fazia por mal… acontecimentos recentes fizeram-na erguer o muro de espinhos que picava quem se aproximasse. Ai de quem ousasse saltar para além dos limites! Não… não havia cá espaco para mais ninguém dentro do seu cantinho. Apenas ela e os seus.

Pois...

Narizito era um animal ferido. E sabia disso. Mas não… nunca daria o flanco nem libertaria as águas em publico. Nunca!
 

Sim… Narizito tinha um abrigo. Um lugar especial muito seu. Lá, no rio, onde ninguém ouvia os seus pensamentos nem lia a dor no seu rosto… um sítio onde as lágrimas não caíssem em solo seco e estéril, onde mais que lamber as feridas, toda aquela água lhe lavasse a alma.

Sempre que podia, sempre que sentia o chamamento das águas, Narizito pegava no que era importante e ía até lá… repousar e reconstruir-se.

Mas ultimamente...

Ultimamente os velhos fantasmas, de tão velhos que se tornaram amigos… desapareceram.
Restou o silêncio.
E com o silêncio… veio o espaço para novos medos.

Pela primeira vez, Narizito sentia-se assustada e sózinha no seu próprio abrigo. Indecisa entre procurar a sólida margem ou esperar pela clarificadora luz do dia.

Esperar…

Talvez o amanhecer leve as sombras para longe.

Talvez a corrente a conduza na escuridão.


É… talvez seja mesmo isso!
Talvez seja esse o segredo: deixar a corrente decidir… nada poderia fazer...
 

NADA era apenas TUDO o que poderia mesmo fazer.


“There's a storm outside my window moving close to me
Moving from the dark
I'm all of this and nothing
I'm the dirt beneath your feet

I'm the sun that rises while you're sleeping”
 




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