O Outono, as folhas e outras colheitas

Outono sabe a nostalgia e cheira a saudade. É a Natureza deixando ir o que outrora foi semente germinada, cresceu, ganhou cor, forma, peso e... teve o seu tempo.
Mas acompanhar o tempo obriga a Vida a um tremendo esforço. Há que deixar cair o supérfluo e concentrar energias no interior, bem dentro do tronco (chamem-lhe peito, se quiserem), para que o calor não se perca no longo e frio Inverno que se aproxima.

Outono é preparação necessária e obrigatória para uma vida nova que surgirá lá mais para a frente depois de ultrapassada a montanha invernal, a última dança do que foi outrora a folha mais verdejante da árvore, a confirmação de que tudo envelhece e deve ser colhido no tempo certo.

Tive a felicidade de na minha infância estar rodeado de belas árvores de folha caduca. Não, quem nasceu e foi criado numa floresta de cimento e alcatrão não saberá do que falo. Simplesmente não consegue... pode imaginar, ver um filme, uma foto, ou ler um tipo qualquer que escreve sobre o Outono, mas não o viveu. Não sabe o que era estar debaixo de um plátano tentando adivinhar pela cor qual a próxima folha a cair... ou chutar no monte de folhas para depois correr entre elas, naquela mistura entre o que parte e que vem a seguir.


Outono é uma doce, calma e bela lição de vida, é olhar para os que já cá estavam, que apesar de se prepararem para partir, usam o seu ainda vivo exemplo como linha orientadora do que nos espera.

Outono é preparar o abrigo feito daquilo que nos rodeia e preenche.

Outono... Outono é feito de memórias...


E isso não leva o vento.





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