Matéria Negra e outros Vazios


Existe um tipo de memórias que ficam incrustadas, autêntica segunda pele que por vezes fica tão exposta, que nos faz sentir frágeis, até envergonhados da nossa própria figura.

Existe um tipo de memórias que te leva a chamar pelo nome ausente no pior dos momentos... que te lembra a inevitável comparação que sempre recusaste fazer, que te recorda pedaços da tua existência.

Memórias que tentas queimar, afogar, enterrar e dissipar com a ajuda dos elementos...

Têm tanto de vãs como de cómicas tais tentativas.

Empenhas-te a fundo numa tarefa social qualquer, num hobby ou a tal formação que sempre adiaste... como se pelas tuas mãos, pelas obras que crias, as conseguisses exorcizar.
Puro engano!

Nem sequer é a agua que libertas naquele ginásio em que passas o resto das horas, tentando tirar do corpo o que não sai do peito.

Também não será no fogo momentâneo que acendes na tua e camas alheias, que as consumirá. Apenas as vitrifica, acrescentando uma ou outra à famigerada colecção.

Resta-te o ferro. Dizem que com ferros mata, com ferros morre. Mas tu só morres...

Desesperas.
Pensas que teus restantes dias, serão pesados e penosos, agrilhoados a uma existência que de tanto ser, transformou teus dias futuros num mero desfilar... numa mera contagem.

Dizem-te que melhores dias virão... para ter força...

Ter força.
Mas que porcaria será isso da força?! Tu sabes lá onde irás buscar força... e cais.

Estrondosamente.

É no duro e chão frio que descobres que não te foi fornecida a saída final, que ainda vives. Talvez ainda não seja desta... que não será agora que quebrarás... não sabes lá muito bem como te levantarás, mas sabes que o farás! Demore o tempo que demorar! Já bateste no fundo, já provaste o sabor do vazio.

É... o vazio...
Esse Quinto Elemento que tem espaço para tudo e para nada, matéria negra que une tudo e tudo absorve.
Dás por ti a rir de ti mesmo... da estupidez do teu sofrimento por coisa nenhuma, por algo que nem sequer é mais que uma... memória! E sabes que mais?

Que se foda! Isso, que se foda tudo o resto!

Há um vazio para preencher, dias a viver, memórias para incrustar.
Serão boas? Não sabes. Não tens hipótese de saber até as viveres.

Mas uma coisa tu já sabes... Isto é tudo um ciclo.

A fase pior?...
Apenas uma memória vazia de importância.






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