O Céu e outros vazios


Existe um espaço onde por vezes tu te afundas.

Talvez tenhas caído inadvertidamente... talvez tenhas sido empurrado... ou pior ainda, talvez tu tenhas seguido um messias menor qualquer na caminhada sobre oceanos que não te dizem nada. Não eram as tuas águas, nem sequer o peixe que te alimentava.
Mas tu seguias. Inebriado pela beleza, pelo sorriso, pelo discurso. Passo após passo... sem te aperceberes que a água já te conquistava os joelhos, naquela cegueira, burro consciente da viseira castradora... sempre em frente... e para baixo.



Tocas no leito. Rio... mar... não interessa. Mais fundo não conseguirás ir. E a partir daqui, tens 2 opções: ou te misturas na lama, igual a tantos outros que por aqui já passaram... ou te dissolves na corrente de outros seguidores. Deixas-te ir... para onde te levarem, sem vontade ou peso próprio.

Hesitas... 

Olhas para o caminho que percorreste. Contas, recontas e e pesas o que perdeste em cada passo na direcção do abismo. O mesmo abismo que está alí... tão próximo, apenas a um passo de distância... um mísero passo. Aquele pequeno nada libertador que te oprimirá para o resto da tua existência. Tão fácil... tão sedutor, tão imediato, tão... enganador.

Sim... hesitas. Muito. Sabes que o caminho de volta será doloroso. Que terás um espelho apontador na margem assim que lá chegues. "De onde vieste tu... que estiveste a fazer... andavas cego..." tudo perguntas que tu sabes a resposta. Sim, tu sabes a resposta!

Mordes teu lábio inferior, cravas os pés no lodo... e regressas. Rumo à margem, à superficie. Ignoras o chamamento da sereia, o encanto do abrigo das profundezas. Olhas para a margem e para cima...

Percebes agora aquela velha canção. Ó se percebes!
Sorris enquanto ouves a tua própria voz martelar-te as palavras...




Nada. É o que te deram, o que tu tiveste e o que tu possuis agora. E quando assim é...

"parece bastar um pouco de céu". 

Mais nada! E de nada estás tu cheio.

E farto!



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