A Grande Roda


Por vezes parece mesmo que a vida troça de nós.

Que tem um especial prazer em nos mostrar o quão pequeninos somos, olhar-nos lá de cima, naquele sorriso sádico, vendo-nos reduzidos à nossa impotência perante a Grande Roda.

É... não controlamos porcaria nenhuma.
Nem sequer somos capazes de proteger aqueles que mais amamos. Chame-se doença, azar, destino ou loucura... que o efeito será sempre o mesmo. Assim como a dor... aquela dor de surpresa, facada nas costas, interrogação no olhar... e um peso ENORME na alma.

Perguntamos porque... como se uma explicação qualquer nos trouxesse alívio. Nem que seja fugaz...

Mas não traz. Não traz.

Apenas olhamos em volta, cerramos olhos, mordemos os lábios, puxamos os cabelos, naquela tentativa de acordar do pesadelo...
Nem o dilúvio nos leva nem lava a dor. Pequeninos... como fossemos apenas umas marionetas num jogo de sádicos.
O pior... o pior é quando o relâmpago apenas raspou na nossa pele...
Olhamos no espelho, vemos o corte, o rasgão, a queimadura... não morreremos disto. Mas os outros... aqueles que ali estavam bem pertinho... vitimas improváveis, inocentes e sobretudo, imerecidamente... esses, quem vai ficar com a cicatriz maior, levaram em cheio com a torrente.

Sentes-te perdida, tentando segurá-los, impedir que se afoguem... abraças, apertas, fechas o núcleo... modo de sobrevivência, modo... mãe.
Não, não tens tempo para questionar os céus. Apenas nadas, saboreando o sal em que te afogas... mas nadas! E leva-los contigo. Porque é assim mesmo que tem que ser, porque é a ti a quem chamam mae.
O tempo virá e alisará as cicatrizes. Demorará... terão muitas marés pela frente...

Mas estão cá, estás cá...
E isso é o que realmente importa agora! O resto...
O resto ver-se-à amanhã. Talvez venha outra borrasca, talvez um vento calmo e quente... não adianta, não vale a pena questionar.

Apenas... sobreviver e proteger os seus. A todo o custo!

E a isso... a isso chama-se ser... mãe!
Mas isso já tu sabes.



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