Chuva ausente em noite de temporal



Bolas, como eu gostaria que estivesse a chover agora!

Tempestuosos são os momentos, falta a chuva libertadora.



Aquela cadência que te acaricia o rosto, que te lava a pele e a alma, que espanta com trovões os teus fantasmas...

Mas não chove... não chove. Nem uma gota sequer... Nem as lágrimas rolam, nem a chuva cai. E ficas seco, desidratado na tua energia.

Inerte e imóvel... à espera que chova, nem que seja uma pinguinha. 

Mas não chove. 

E aguardas, tentas conter os demónios enclausurados. Acaricias teu cabelo, transformas tuas mãos em mãos ausentes que te acalmem, que te façam sentir o calor...

O calor, o toque quente para além da pele, que te percorria as veias... é agora apenas uma memória, algo que repousa na mesma poeira que a chuva levanta, naquele cheiro tão próprio, tão quente e que te enche o peito... que te fazia sentir vivo. Se ao menos chovesse.

São quase 3 da manhã e não chove. E tu ardes por dentro. Consumindo tudo e todos.

Nas cinzas, nas tuas próprias cinzas que teimam em escorrer por entre teus dedos por mais que apertes, descobres que das cinzas farás cimento.



Cimento forte, resistente... que irá manter-te quente, vivo. 

Abrigado. 

Aquele pedacito de chão, de terra, aquele elemento que dos 4 é solidez. Escoras-te, reforças as paredes, constróis abóbodas e tectos...

Reconstrois-te. E reforças os muros em volta.

Sentes o chão. Outra vez. Absorves cada pedacinho de oxigénio que te entra nos pulmões, cada centelha de energia que paire no ar. E respiras. Fundo. Até sentires o fogo que reside em teu peito, que te espalha o sangue pelo teu corpo. Procuras a luz entre as poucas janelas que deixaste abertas... e sais!

Olhas para o amanhecer, para o dia que se renova. E renovas-te. Renasces. Mais uma vez.

Até que a noite surja. Com todas as suas sombras, sonhos e pesadelos. Com o descanso que anseias.

É, pode ser que chova à noite.

Tem que chover. Mesmo.





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