Côr da Neve e Outros Pesos



Olhas no espelho...
Sentes o peso, aquele peso invisível, sem corpo, cheiro ou forma... mas que te moldou, desgastou... deformou.

Ajeitas o cabelo, ou que sobrou dele... tentas recuperar a jovialidade, o brilho, a vida, o volume.
Sorris, falas com a pessoa no espelho, tentando convencê-la que ainda estás para as curvas, que ainda tens mercado, que ainda vales o tempo que gastam a tentar conquistar tuas atenções.

Negoceias.

Negoceias o brilho dos lábios, a vida no rosto, a perspicácia e magnetismo do olhar. Armadilhas tuas garras com o verniz que tentarás depositar na pele alheia, qual viúva negra, arrastando para a momentânea morte o incauto e ignorante macho sedento de mais uma risquinha na parede. Esse mesmo macho, velho leão a quem caíram os dentes, e que carrega as cicatrizes mais ou menos expostas dos elementos quotidianos, também ele manchado pela neve dos tempos, com as expressões marcadas indelevelmente no rosto, linhas de tensão, desejo e vícios, emoções tatuadas na pele com a tinta dos anos.


Vês no outro lado o teu reflexo invertido.

Ali... expondo as qualidades e capacidades que ainda restam. Consegues imaginar a beleza queimada pelo tempo... e o que sobrou dela depois da avalanche dos anos.

Sorris outra vez... afinal de contas só te resta aceitar...

Sabes que depois de ultrapassado o cume, só sobra a descida.

Calculas melhor os passos que terás que dar... vês onde pões os pés... aprecias a paisagem que a pressa da subida não te permitiu desfrutar.

Agora sim... agora consegues reconhecer a beleza das coisas.
Mesmo aquelas a quem a neve lentamente vergou as costas e levou a côr.

Dizem que branco é pureza... que é a cor da Luz Eterna.

Se é para esperar pela Luz...


Let it snow e...
Que seja em grande!

 

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