25 Anos de Nevermind
Tenho sentimentos mistos em recordar a data da morte de alguém. Prefiro celebrar o dia em que alguém nasceu para deixar marca positiva para além da sua existência.
Existem pessoas que nascem... "diferentes", cuja criatividade é um verdadeiro parasita do indivíduo, que se alimenta dos desequilibros internos, transformando-os em algo muito maior que a própria, consumindo-a de tal modo que o que sobra já não consegue suportar o peso da exposição. E colapsa.
Kurt Cobain foi uma delas.
O Nirvana maior nunca poderá ser apontado como modelo de cidadania e muito menos vestirá a pele de pai exemplar. Aliás, aquela cabeça desde cedo andava desarrumada... ser um extraterreste adoptado, ter um amigo imaginário... acrescente-se as drogas... o resto já todos sabemos.
Mas pessoas menos... "boas" também conseguem produzir algo grandioso, algo que alimente a memória colectiva, algo... único.
E quando assim acontece, o momento em que tal pessoa é expulsa das águas, é de celebrar.
Kurt Donald Cobain completaria hoje a idade dourada dos 50. Atingiu a libertação do seu sofrimento, do seu Nirvana (apagado, ser assoprado) bem mais cedo. E assim terminou um ciclo.
Resta-nos recordar o legado.
"Faz hoje 25 anos que para mim começou o Outono musical.
Não que tudo o que veio depois deste álbum deixasse de ter qualidade... claro que houve, há e certamente virão grandes talentos, músicas e tendências. Mas Nevermind sabe a pôr-do-sol de um daqueles últimos dias de verão: sabemos que talvez seja um dos últimos belos momentos antes da queda da folha e do longo Inverno.
É... Nirvana foi um desses.
Talvez a última banda impactante, e sinceramente, não me parece que tenha surgido algo assim tão grandioso e genial depois do seu desaparecimento. Um dia de sol aqui, outro ali... mas nada que te desperte como um movimento, como algo que fique indelevelmente marcado na História, daqueles que toca em gerações que nunca tiveram o prazer de o viver no momento certo. Restam apenas difusos raios de sol, cada vez menos quentes... por mais que nos exponhamos a eles.
Olhar para este video à posteriori, é... terrível.
Está lá tudo: as águas uterinas, o espermatozóide com o flagelo bifurcado (diferente de todos), a face distorcida de Kurt, num claro sinal de baixa auto-estima, o balançar no candeeiro... o cão que não consegue lamber as próprias feridas, a arma.
Talvez viver fosse demasiado doloroso para o Nirvana cantante, e fez questão de o gritar bem alto logo no primeiro sucesso mundial. Apenas não vimos. Estávamos demasiado sedados e dependentes da sua música para ver além da batida, do álcool e outras euforias.
Mas sabes uma coisa, Kurt?
Perdão, eu sei que sabes... para além de um legado musical enorme, deixaste uma filha para sempre marcada pela tua... fuga. Sim, eu sei... todos erramos.
Mesmo os eternos.
PS: Manda cumprimentos ao Freddie Mercury, ao David Bowie e ao Carlos Paião, ok?
Como?!
Não sabes falar Português e falta-te o céu da boca?!
Olha...
Nevermind.
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