Céu de Ferro


Sinceramente acredito que esta história toda das contas secretas-que-todos-sabiam-que existiam-mas fingiam-não-ter-nada-a-haver-com-isso, no Panamá, não conheceu a luz do dia por acaso. Assim, e num instantinho, deixou-se de falar das eleições americanas, dos atentados, do Daesh e até dos refugiados. Isso é tudo lá longe, fora das nossas carteiras, dos nossos impostos...
Pois... dinheiro. Sempre foi e sempre será o mote.

Toda esta ganância e corrupção global recordou-me uma edição vídeo com um famoso discurso de alguém a quem toda a Humanidade deve muito. Apesar de ter sido proferido em 1940, continua terrivelmente actual e estava mesmo para o publicar - há coincidências curiosas - quando recebi algo... Já lá vamos...

Paulo Fernandes é um amigo virtual que conheço quase desde os primeiros passos facebookianos. Aliás, tenho partilhado aqui muitos vídeos seus, alguns até decoraram musicalmente meus textos... É, o Paulo é uma pessoa com a sensibilidade à flor da pele, com aquela capacidade de ver e sentir o que a maioria das pessoas nem sequer se apercebe que existe.

Este domingo abro o face, e tenho a seguinte mensagem:
-"Moço, sente isto...". Assim, sem mais palavras, e um vídeo com pouco mais de 8 minutos, que sinceramente... deixou-me sem palavras. É do melhor que alguma vez vi. Obrigado, Paulo!


Não, não é falta de som... é mesmo assim, em silêncio até ao minuto 2:15. O som que as queixas de quem está debaixo de um céu de ferro, bem no fundo da cadeia monetária, pode emitir. Porque ninguém os ouve, porque não vale a pena, porque só lhes resta tentar esquecer. Nem que seja à custa da alienação social - aka drogas - e esperar que um Deus qualquer olhe para eles. Abandonados à sua sorte. Pelos que os empurraram para o conflicto com a promessa de uma vida melhor. Os mesmos que negociaram o cessar-fogo. E lucraram com isso.
É, isto é Kiev, na Ucrania. Mas podia ser noutro local qualquer, noutro bairro, noutra casa. Porque não é só com bombas que se destrói um país, uma cidade, uma pessoa. Não são só as balas que matam. A sensação de impotência, de abandono é terrivel. E tem muitas formas para se fazer sentir.

A música começa aos 2:15. Como um grito de desespero. Vai-se a esperança, implora-se a atenção pela maneira definitiva. Talvez assim alguém olhe... talvez assim alguém veja o que está a acontecer... talvez alguém se importe. Chame-se Kiev, Luanda, Damasco, Panamá... ou simplesmente, o vizinho do lado.

Em crescendo... letra poderosa, com um discurso célebre bem no meio. Gritado, cantado, escutado. Porque a música tem esse condão de passar mensagens pelo ouvido. Tanto que minha esposa, noutro aposento, soltou um sonoro: "gosto do que estás a ouvir". E eu estava a ouvir bem alto... mas com os olhos vidrados e respiração suspensa...

Isto não é - apenas - uma música nem sequer um simples vídeo. Não... isto é arte, é o melhor e o pior que o ser humano tem. Ali, exposto... verdadeiro tratado comportamental das diferentes respostas ao stress, à opressão... ao esmagamento.

Há tanto, mas tanto por descobrir neste vídeo, que cada vez que o vejo, descubro sempre mais uma referência, mais um pormenor, mais uma metáfora, mais uma porta de saída.
A indiferença, a mistura entre religião e guerra... as memórias que não saem da cabeça... a apatia... o clássico morder do pau para controlar a dor... a tentativa de fuga para o ventre materno ( a piscina )... companheiros de "quarto" que brigam entre si como escape, verdadeiros ratos de Sklar e Anysman, na melhor resposta que encontram para o stress, para mais tarde dançarem juntos... o bater com um polvo no chão (polvo é claramente a melhor definição para um sistema corrupto, que toca em tudo, que prende tudo e todos com suas ventosas), numa clara afronta e resistência ao que o oprime... o abuso dos poderes instalados sobre as novas gerações... e a música como escape, como fuga, como... esperança.

A mesma esperança que precisamos redescobrir em cada um de nós, bem no núcleo, no centro ( a meditação com a central nuclear por fundo ), em mutualismo, em sociedade... Porque isto é um apelo à nossa consciencialização, à nossa... revolta interior... Ou então deixar ficar tudo na mesma, em silêncio. Num vazio silêncio, tal como acaba o vídeo. Apenas depende de cada um de nós alterar as coisas.

Resistir.
Sem a fuga do silêncio que as drogas, a apatia ou o suicídio oferecem.

"E mesmo que os homens morram, a liberdade nunca perecerá
Não entreguem-se a esses homens artificiais
Homens-máquina, com mentes de máquina e corações de máquinas!
Vocês não são máquinas. Vocês não são gado, vocês são homens!
Vocês, pessoas, têm o poder de tornar esta vida livre e bela
E de fazer desta vida uma aventura maravilhosa
Vamos usar esse poder!
Vamos todos nos unir!" - Charlie Chaplin, em o Grande Ditador.


Pois... era este o vídeo que eu ia publicar até ser brindado com o que o Paulo me enviou...
Coincidência, dirão muitos. Prefiro acreditar que há uma consciência global para quem está mais atento, mais sensível, mais.. desperto.
Está em cada um de nós a solução: resistir, ou virar a face para o lado. Que até é mais fácil, e no final de contas, morreremos todos...

Morreremos certamente. Como cobardes ou resistentes.

E isso... mais que a vossa escolha, será a vossa HERANÇA!

Obrigado pelo vosso tempo.
Resistiram até à última letra ;)


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