Silêncios e outras ilhas.
Dizem que uma das coisas que mais impressiona - e condiciona - quem foi ao espaço, é o silêncio total.
Não que não exista ruído... sabemos que existe.
Talvez até converse connosco... apenas não o conseguimos escutar, não estamos ainda preparadas para ouvir.
E isso faz-nos sentir... abandonados.
Não que o facto de estarmos sozinhos seja em si mesmo O Problema... Até porque realmente nunca estamos nem estaremos sozinhos. Há sempre algo mais que nos rodeia ou envolve. Diria mesmo que parasita em nós... cá dentro... roendo e corroendo os teus alicerces, alimentando-se das tuas energias, do teu sono, do teu sorriso.
Chame-se memórias, decisões ou simples pensamentos, nunca estamos sós e abandonados. Nunca. Por mais que tentemos, jamais conseguiremos fugir do nosso núcleo. Expandimos, contraímos, torcemos e deformamos... mas nunca vazios. Até o mais apático ser tem um centro que num tempo anterior foi estrela vibrante e por qualquer razão, colapsou.
É... o silêncio é terrível.
Obriga-nos a conversar com o espelho. Ou pelo menos ouvir. O que queremos e o que não gostamos... ambas facetas de um Eu real, intrínseco e verdadeiro, naquela retórica tão fria, tão mordaz e cruel... que tu sabes tão bem que é assim... mas não queres ouvir. Não agora, não ainda...
Mergulhas no barulho.
Mas mergulhas tanto que consegues distorcer essa batida de fundo, esse pulsar vital, esse TU, que passas a ser uma mistura de sons, vibrações e contactos. Tudo para que não te ouças. Tudo para que tua pele não arrefeça por fora.
Tanta interacção com algo exógeno faz-te sentir... poderoso.
Já não estas limitado pela tua pele... tu já comandas e desmandas uma panóplia de equipamentos, tecnologia e... sociedades. Tentas gerir o estrondoso clamor da informação que te bombardeia os sentidos, filtrando o que consegues, tentando separar o ruído da mensagem, aplicando o que achas melhor.
O que achas melhor... será que te ouves?! Mas quem és tu para decidir o que é melhor para outros?
Saberás defini-lo para ti?
Ou és apenas um mero aprendiz na fábrica de deuses do ruído e da estática?
Ah... não tens tempo para isso, não podes parar para pensar...
Aliás, é tanto o barulho que já nem consegues alhear-te dele.
Estrela Supernova em plena e descontrolada fusão.
Até colapsares, preso na tua armadilha sonora, arrastando tudo em tua volta.
Tua pele esfriou e misturou-se com o tempo.
Resta-te somente o monólogo.
Aquele mesmo monólogo que foste adiando. Até te transformares num devorador buraco negro, um daqueles que nem o som consegue escapar.
Apenas porque não conseguiste ouvir-te em silêncio.
Mas silêncio é agora algo que não te faltará.
Para mal dos teus barulhos.
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