O Fim de semana

Como se encara um amigo que sabes que talvez seja a última vez que o vais ver?

Cumprimentas, dás aquele abraço e perguntas: " Então, como estás? Como vai a tua próstata e as tuas metástases nos rins e na bacia? E esses ossos, ainda aguentam contigo?"

Não... não tens a coragem sequer de referir isso.

Balbucias um "prazer em ver-te outra vez, meu velho amigo", e escondes-te naquele abraço que queima.

Já nem consegues perguntar como vai o filho de 4 anos, ou a mulher que o fez assentar. Faltam-te as palavras, o nó já destruiu a tua voz, já nada sai. Fazes aquele esforço enorme para sorrir, mas apenas consegues disfarçar a lágrima. "É do pólen, eles avisaram..."

E de repente, vem de lá aquele sorriso aberto, com o olhar brilhante de menino grande, do alto dos seus 189 centimetros e pata 47...

Sentes uma vergonha enorme das tuas queixas.

Esmagado.

És esmagado pela força e vida que emana daquela força da natureza, que vai adiando, lutando, como se a cura estivesse no dia seguinte... como se bastasse só acordar amanhã... A mesma pessoa que logo a seguir conta-te uma anedota muito estúpida, naquele húmor tão british, que ficas pasmado, ali... a tentar perceber como é possivel, como é possivel, Meu Deus, ser-se tão... guerreiro?!

Falas da família, do tempo quente, e despedes-te com um até já, Desta vez um até já breve. Porque sabes que este fim de semana falarão muitas vezes, trocarão risos, comida, álcool, brincadeiras parvas e até andarão à porrada. Literalmente.

Vem-me logo à cabeça aquelas imagens das noites, dos momentos que antecediam uma grande batalha... em que todos confraternizam excessivamente, sabendo muitos não viverão para contar como foi...

Que venha o fim de semana, my dear friend Paul! E depois logo se verá.

Só precisas acordar amanhã.

Porque é amanhã que tu esperas que o milagre aconteça.


And if we should die tonight
We should all die together
Raise a glass of wine for the last time
Calling out father
Prepare as we will