O chão que tolhe o vôo e outros sonhos
Tu olhas... vês o abismo no passo iminente.
Refreias teu ímpeto, a dúvida invade-te e conquista mais que teu corpo, a tua vontade.
O chamamento do horizonte perdeu-se agora nos ventos do medo. Os grilhões do ontem seguram-te a um passado diariamente presente, sem promessas de futuro. Literalmente segura, refém de um medo que não consegues explicar lá muito bem...
Mas de que tens tu medo? Do salto para o vazio? De te faltarem todas aquelas sensações comuns, tão quotidianas, tão presentes, tão... iguais? É disso que tens medo? De quebrares a rotina e não saberes se crescerão penas nos teus braços?
Será a tua ânsia inferior ao que procuras? Ao que tu sabes e sentes que te falta?
O que te falta... tu tens tudo. Tens um chão, mapas dos caminhos que percorres, rasteiras árvores de fruto... ali, mesmo em volta do abrigo, uma fonte... Tu já carregaste a semente que cresceu e deu frutos. Tu tens tudo, não precisas voar! Não precisas procurar correntes de ar que te suportem e levem para terras distantes... lá em cima, com a queda mais que certa se o vento parar...
Então que queres tu mais?!
-"Nada."
Mas de nada estás tu cheia...
Inspiras profundamente, sentindo o ar elevar teu peito. Procuras esvaziar tua mente... expulsas no sopro forte todo e qualquer lastro de racionalidade que te pese... Preparas-te para voar. Inspiras... Mais uma vez... Levantas a face, fechas os olhos... sentes a brisa, cabelos fustigando teu rosto... enches teu peito de ar...
Gritas!
De medo vencido e sobrevoado. Lá em cima, onde teus pés não tocam no chão... onde só os sonhos mais altos chegam.
E sorris... da tua pálida figura, lá em baixo. Acorrentada em compromissos, deveres e outros medos.
Sabes que um dia terás que aterrar...
Mas não hoje!
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